sexta-feira, 23 de agosto de 2013

ORDEM DOS CAVALEIROS DO TEMPLO DE SALOMÃO

Contribuição de LOURENÇO JUAREZ BIERMANN, Gr.: 19- da A.R.C.L.S Estrela Santiaguense


Por volta do ano 610 d.C., o comerciante de camelos MOHAMMED IBN ABDULLAH IBN ABDELMOLTALIB IBN HASLIM, ou seja, MAOMÉ, filho de ABDULA, que é filho de ABDELMOLTALIB, que era filho de HASLIM, teve uma visão em que aparecia o anjo Gabriel ordenando “Recita, recita em nome do senhor que criou o mundo” e no dia seguinte apareceu no mercado de Meca repetindo que “Só Alá é Deus e Maomé é o seu Profeta”. Este foi o início do islamismo, da palavra árabe islam,  isto é, a obediência cega à vontade de Deus, Alá. Os novos crentes saudavam-se com as palavras Sallah Aleikum, traduzido em Que Alá esteja contigo, variando a pronúncia segundo a língua árabe na qual é pronunciada. Esta saudação tem o mesmo significado com o Shalon, dos hebreus, ou o latino  Dominus Vobiscum, dos cristãos, pois muitas das pregações iniciais de Maomé tem inspiração nas reuniões dos cristãos e nas sinagogas dos hebreus que ele, como comerciante viajante, fazia visitas a essas reuniões.

No dia 16 de julho de 622, Maomé se viu obrigado a fugir para a cidade de Medina, escapando da revolta dos comerciantes de Meca, revoltados com a determinação da destruição dos 360 ídolos existentes no templo Kaaba ,  local de peregrinação de milhares de pessoas adoradoras desses símbolos. Essa data, denominada Hégira, a fuga, é de grande importância para o muçulmano, pois aí tem início a contagem de seu calendário, estando hoje no ano 1.391. Em Medina, Maomé organizou um exército e retornou triunfalmente para Meca.

Maomé, por ser analfabeto, ditava aos escribas as revelações que dizia serem vindas de Alá, que eram registradas nas superfícies planas disponíveis, folhas de palmeiras, ossos de animais e até nas costas do fieis para depois serem transcritas em papel.

As pregações simples de Maomé foram logo aceitas, pois organizavam a vida de milhares de beduínos do deserto, que não tinham normas de conduta social ou religiosa. Entre os princípios do islamismo existe a Jihad, o esforço na defesa do Islã, ou a guerra santa, de levar o islamismo a todos os povos, mesmo com a força da espada.

Os cristãos de Portugal, França, Itália, Inglaterra, Constantinopla e Grécia faziam peregrinações à Jerusalém, visitando o local do martírio e do sepulcro de Jesus Cristo, onde foi edificada, sob supervisão de Helena, mãe do imperador Constantino, a Igreja do Santo Sepulcro, até quando os turcos seldjúcidas tomarem Jerusalém e transformarem a Igreja do Santo Sepulcro em mesquita islâmica. 

Essas proibições criaram problemas não só religiosos, mas também comerciais, pois a nobreza feudal européia ficava impossibilitada na conquistas de novas terras e os mercantilistas de Veneza e Gênova de ampliar seus negócios com o alto valor das especiarias orientais, como a seda, pimenta do reino, cravo e canela. A pimenta era muito usada na conservação da carne do gado que os fazendeiros europeus eram obrigados a abater pela falta de pasto no rigoroso inverno.

Para libertar Jerusalém, os nobres e o Vaticano organizaram, no período de 1096 a 1270, num total de oito exércitos, que tomaram o nome de cruzadas, em razão da cruz que os soldados tinham bordada nas vestes. Diante da insuficiência de padres ordenados para acompanhar os exércitos, o Papa nomeava soldados cristãos, com o título da capitães da fé,  com poderes religiosos de celebrar cultos, confessar ou dar extrema-unção aos moribundos. O problema maior aconteceu quando a 2ª Cruzada tomou  Jerusalém e praticou verdadeira carnificina, matando todos os islâmicos, não poupando mulheres ou crianças, o que causou furor nas tribos árabes, que começaram a detestar os cristãos e iniciaram assaltados aos peregrinos, tornando a viagem a Jerusalém uma morte certa.

Enquanto os Cruzados estavam em Jerusalém, os cristãos tinham uma certa proteção, mas ficavam totalmente desabrigados quando os exércitos retornavam para a Europa, e, por isso, no ano de 1118 o cruzado Hugo de Payens e mais oito cavaleiros resolvem criar uma milícia para dar segurança aos peregrinos, com a denominação de Pobres Soldados de Jesus Cristo,  e, por ficarem alojados na borda sul do local do templo de Salomão, passaram a ser conhecidos  como os Cavaleiros do Templo de Salomão, ou simplesmente Templários.

Em 1.129 o abade e templário Bernardo de Claraval apresentou ao Concílio da Igreja Católica a Regra ou Estatutos dos Templários que foi aprovado pelo Papa Honório II, e os Cavaleiros passam a usar o hábito branco, com uma cruz, símbolo do martírio. O lema dessa Ordem foi retirado do livro dos Salmos 115:1: Non nobis Domine, nom nobis, sed nomini tuo da Gloriam, significando, Não a nós Senhor, não a nós, mas a teu nome se dá glória, Senhor.

Os templários tinham uma vida monástica típica daquela época, com votos de castidade, pobreza, jejum,  obediência e moderação no comer, mas no objetivo militar tinham treinamentos rudes e constantes, com renúncias pesadas aos bens materiais e a qualquer tipo de ostentação.

Perante o Patriarca de Jerusalém  juravam proteger as estradas que conduziam ao lugares santos. Também foi criada uma Ordem com a denominação de Hospitalários, com objetivo de amparar e cuidar dos feridos nas batalhas.

O número de cavaleiros da Ordem dos Templários não cessou de crescer por quase 200 anos e, em razão de seus castelos bem guarnecidos e da fama e confiança que gozavam, passaram a manejar e transladar dinheiro. É nessa época que surge a Letra de Câmbio, pois os peregrinos e comerciantes europeus, para não transportarem grandes quantidades, entregavam esses valores nos castelos dos Templários nas cidades da Europa, recebendo um documento que os autorizava receber igual valor em Jerusalém ou em uma das 38 fortalezas construídas pelos Templários, com notável técnica de defesa e ornamentação, na Síria e na Palestina.

O exército cruzado, pesar de lutarem bravamente com auxílio dos Templários, não conseguiu vencer os 7.000 mamelucos do sultão Saladino e acabam perdendo as cidades de São João de Acre, Gaza, Ascalon e, finalmente Jerusalém em l.l87. Alguns escritores afirmam que foi nessa oportunidade que os cruzados perderam para o árabe Saladino a verdadeira cruz de Cristo, que carregavam à frente do exército para incentivar na batalha.

Logo a Europa organiza a 3ª Cruzada,  comandada por Ricardo Coração de Leão, rei da Inglaterra que, com apoio dos Templários, derrota Saladino e retoma Jerusalém, firmando acordo com o chefe muçulmano.

Em razão dos valores arrecadados nos despojos de guerra, doações feitas por reis e peregrinos, agradecidos pela proteção, a Ordem dos Templários se tornou rica e poderosa, com mais de 50 castelos e comunidades na Europa, financiando guerras e emprestando valores aos reis em dificuldades.

Com as derrotas no oriente, os Templários retornam em seus navios para a Europa e muitos escritores afirmam que nessa oportunidade lavavam os famosos tesouros dos Templários, retirados do templo de Salomão, incluindo as Tábuas da Lei, de Moisés, o Santo Gral, ou seja, o cálice da última ceia de Jesus ou o cálice no qual José de Arimatéia teria recolhido o sangue de Jesus. Essa crença era tão forte, que Adolf Hiltler determinou a seus generais que fizessem escavações no sul da Argentina onde acreditava que os Templários, que fizerem viagens ao sul do continente americano, bem antes de Colombo e Cabral, teriam escondido esses tesouros.

Em todos os estados da Europa para onde retornaram, os Templários seguiram as atividades comerciais e financeiras, com sede no quartel general de Paris e na construção de castelos e fortificações para os nobres do período feudal edificados para defender a família e os servos dos ataques dos bárbaros. Como profundos conhecedores do uso da pedra na arquitetura, especialmente o ângulo de corte da pedra para sustentação de grandes abóbadas de vão livre, foram contratados pela Igreja Católica para edificação de igrejas e mosteiros. Como existiam vários mestres na arte da edificação, se passou a usar o termo Grão ou Venerável para o chefe das obras.

Em 1.293 a direção da Ordem passa para o Grão-mestre Jacques de Molay, que fez contato com vários reis e conseguiu o privilégio de comércio e navegação, para que as exportações de alimentos feitos pelos Templários ficassem isentos de impostos.

Estando o Felipe, o Belo, rei da França, bastante endividado e com as finanças reais abaladas em razão de guerras, resolveu confiscar os bens e tesouros dos Templários e, assim, no dia 13 de outubro de 1.307, uma sexta-feira, ordenou a prisão de todos os Templários na França, que foram tomados de surpresa diante dos favores que tinham prestado ao rei. Da mesma forma de traição, o Papa Clemente V, através da Bula de 23 de novembro de 1.307, ordenou que os Templários fossem presos e suas propriedades transferidas para a Igreja, não só na França, mas em todos os reinos cristãos, não sendo, no entanto, obedecido pelos reinos de Portugal e Aragão que muito deviam de sua soberania à ação decisiva dos Templários.  Retribuindo as anteriores e decisivas atuações e desejoso em mantê-los em seu reino, Portugal conseguiu autorização papal e transformou a Ordem dos Cavaleiros do Templo de Salomão na Ordem de Cristo, que vai ter importante papel nas grandes navegações, inclusive no descobrimento do Brasil, onde Pedro Álvares Cabral era o comandante militar da esquadra que ostentava a cruz símbolo dos Templários.

Na França, junto com 138 cavaleiros, foi preso o Grão-mestre Jacques De Molay, que sofreu terríveis torturas durante 7 anos para confessar pecados de traição a Jesus, homossexualismo, adoração ao diabo, cuspir na cruz, acusações feitas por Guilherme de Nogaret para justificar a prisão e o confisco dos bens.

De Molay jamais admitiu tais acusações e, por isso, no dia 18 de março de 1.314, quando tinha 70 anos, juntamente com os companheiros Grey D’Auvergnie e Godofredo de Chanay foi queimado vivo na praça de Paris. Quando ardia em chamas, De Molay gritou, dizendo que antes do fim do ano, o rei Felipe e o Papa Clemente seriam chamados à presença de Deus, como de fato aconteceu no prazo de 40 dias.

No dia seguinte ao aprisionamento dos cavaleiros franceses, toda a esquadra templária zarpou durante a noite, desaparecendo  sem deixar registros, refugiado-se, possivelmente na Suíça, onde lá implantaram o admirável sistema bancário.  Após a execução do grão-mestre Jacques De Molay, em 1314, um significativo número de perseguidos conseguiu, pela segunda vez, embarcar no norte da França em navio da Ordem com destino a Escócia e ali encontraram refúgio junto à igual irmandade de construtores, com os quais se fundiram e constituíram o chamado Rito Escocês antigo e Aceito.

Comentava-se 480 depois, à época da Revolução Francesa que, quando a cabeça de Luiz XVI caiu na guilhotina, uma voz do povo gritou: De Molay está vingado.

Hoje De Molay é símbolo de dignidade de quem prefere a morte a trair os seus ideais e seus companheiros.