Por volta do ano 610
d.C., o comerciante de camelos MOHAMMED IBN ABDULLAH IBN ABDELMOLTALIB IBN
HASLIM, ou seja, MAOMÉ, filho de ABDULA, que é filho de ABDELMOLTALIB, que era
filho de HASLIM, teve uma visão em que aparecia o anjo Gabriel ordenando “Recita,
recita em nome do senhor que criou o mundo” e no dia seguinte apareceu no
mercado de Meca repetindo que “Só Alá é Deus e Maomé é o seu Profeta”. Este
foi o início do islamismo, da palavra árabe islam, isto é, a obediência cega à vontade de Deus,
Alá. Os novos crentes saudavam-se com as palavras Sallah Aleikum, traduzido
em Que Alá
esteja contigo, variando a pronúncia segundo a língua árabe na qual é
pronunciada. Esta saudação tem o mesmo significado com o Shalon, dos
hebreus, ou o latino Dominus
Vobiscum, dos cristãos, pois muitas das pregações iniciais de Maomé tem
inspiração nas reuniões dos cristãos e nas sinagogas dos hebreus que ele, como
comerciante viajante, fazia visitas a essas reuniões.
No dia 16 de julho de 622,
Maomé se viu obrigado a fugir para a cidade de Medina, escapando da revolta dos
comerciantes de Meca, revoltados com a determinação da destruição dos 360
ídolos existentes no templo Kaaba , local de peregrinação de milhares de pessoas
adoradoras desses símbolos. Essa data, denominada Hégira, a fuga, é de
grande importância para o muçulmano, pois aí tem início a contagem de seu
calendário, estando hoje no ano 1.391. Em Medina, Maomé organizou um exército e
retornou triunfalmente para Meca.
Maomé, por ser
analfabeto, ditava aos escribas as revelações que dizia serem vindas de Alá,
que eram registradas nas superfícies planas disponíveis, folhas de palmeiras,
ossos de animais e até nas costas do fieis para depois serem transcritas em
papel.
As pregações simples de
Maomé foram logo aceitas, pois organizavam a vida de milhares de beduínos do
deserto, que não tinham normas de conduta social ou religiosa. Entre os
princípios do islamismo existe a Jihad, o esforço na defesa do Islã, ou
a guerra santa, de levar o islamismo a todos os povos, mesmo com a força
da espada.
Os cristãos de Portugal,
França, Itália, Inglaterra, Constantinopla e Grécia faziam peregrinações à
Jerusalém, visitando o local do martírio e do sepulcro de Jesus Cristo, onde
foi edificada, sob supervisão de Helena, mãe do imperador Constantino, a Igreja
do Santo Sepulcro, até quando os turcos seldjúcidas tomarem Jerusalém e
transformarem a Igreja do Santo Sepulcro em mesquita islâmica.
Essas proibições criaram
problemas não só religiosos, mas também comerciais, pois a nobreza feudal
européia ficava impossibilitada na conquistas de novas terras e os
mercantilistas de Veneza e Gênova de ampliar seus negócios com o alto valor das
especiarias orientais, como a seda, pimenta do reino, cravo e canela. A pimenta
era muito usada na conservação da carne do gado que os fazendeiros europeus eram
obrigados a abater pela falta de pasto no rigoroso inverno.
Para libertar Jerusalém,
os nobres e o Vaticano organizaram, no período de 1096 a 1270, num total de
oito exércitos, que tomaram o nome de cruzadas, em razão da cruz que os
soldados tinham bordada nas vestes. Diante da insuficiência de padres ordenados
para acompanhar os exércitos, o Papa nomeava soldados cristãos, com o título da
capitães da fé, com poderes religiosos
de celebrar cultos, confessar ou dar extrema-unção aos moribundos. O problema
maior aconteceu quando a 2ª Cruzada tomou Jerusalém e praticou verdadeira carnificina,
matando todos os islâmicos, não poupando mulheres ou crianças, o que causou
furor nas tribos árabes, que começaram a detestar os cristãos e iniciaram
assaltados aos peregrinos, tornando a viagem a Jerusalém uma morte certa.
Enquanto os Cruzados
estavam em Jerusalém, os cristãos tinham uma certa proteção, mas ficavam
totalmente desabrigados quando os exércitos retornavam para a Europa, e, por
isso, no ano de 1118 o cruzado Hugo de Payens e mais oito cavaleiros resolvem
criar uma milícia para dar segurança aos peregrinos, com a denominação de Pobres
Soldados de Jesus Cristo, e, por
ficarem alojados na borda sul do local do templo de Salomão, passaram a ser
conhecidos como os Cavaleiros do
Templo de Salomão, ou simplesmente Templários.
Em 1.129 o abade e
templário Bernardo de Claraval apresentou ao Concílio da Igreja Católica a
Regra ou Estatutos dos Templários que foi aprovado pelo Papa Honório II, e os
Cavaleiros passam a usar o hábito branco, com uma cruz, símbolo do martírio. O
lema dessa Ordem foi retirado do livro dos Salmos 115:1: Non nobis Domine,
nom nobis, sed nomini tuo da Gloriam, significando, Não a nós Senhor,
não a nós, mas a teu nome se dá glória, Senhor.
Os templários tinham uma
vida monástica típica daquela época, com votos de castidade, pobreza,
jejum, obediência e moderação no comer,
mas no objetivo militar tinham treinamentos rudes e constantes, com renúncias
pesadas aos bens materiais e a qualquer tipo de ostentação.
Perante o Patriarca de
Jerusalém juravam proteger as estradas
que conduziam ao lugares santos. Também foi criada uma Ordem com a denominação
de Hospitalários, com objetivo de amparar e cuidar dos feridos nas batalhas.
O número de cavaleiros da
Ordem dos Templários não cessou de crescer por quase 200 anos e, em razão de
seus castelos bem guarnecidos e da fama e confiança que gozavam, passaram a
manejar e transladar dinheiro. É nessa época que surge a Letra de Câmbio, pois
os peregrinos e comerciantes europeus, para não transportarem grandes
quantidades, entregavam esses valores nos castelos dos Templários nas cidades
da Europa, recebendo um documento que os autorizava receber igual valor em
Jerusalém ou em uma das 38 fortalezas construídas pelos Templários, com notável
técnica de defesa e ornamentação, na Síria e na Palestina.
O exército cruzado, pesar
de lutarem bravamente com auxílio dos Templários, não conseguiu vencer os 7.000
mamelucos do sultão Saladino e acabam perdendo as cidades de São João de Acre,
Gaza, Ascalon e, finalmente Jerusalém em l.l87. Alguns escritores afirmam que
foi nessa oportunidade que os cruzados perderam para o árabe Saladino a
verdadeira cruz de Cristo, que carregavam à frente do exército para incentivar
na batalha.
Logo a Europa organiza a
3ª Cruzada, comandada por Ricardo
Coração de Leão, rei da Inglaterra que, com apoio dos Templários, derrota
Saladino e retoma Jerusalém, firmando acordo com o chefe muçulmano.
Em razão dos valores
arrecadados nos despojos de guerra, doações feitas por reis e peregrinos,
agradecidos pela proteção, a Ordem dos Templários se tornou rica e poderosa, com
mais de 50 castelos e comunidades na Europa, financiando guerras e emprestando
valores aos reis em dificuldades.
Com as derrotas no
oriente, os Templários retornam em seus navios para a Europa e muitos
escritores afirmam que nessa oportunidade lavavam os famosos tesouros dos
Templários, retirados do templo de Salomão, incluindo as Tábuas da Lei, de
Moisés, o Santo Gral, ou seja, o cálice da última ceia de Jesus ou o cálice no
qual José de Arimatéia teria recolhido o sangue de Jesus. Essa crença era tão
forte, que Adolf Hiltler determinou a seus generais que fizessem escavações no
sul da Argentina onde acreditava que os Templários, que fizerem viagens ao sul
do continente americano, bem antes de Colombo e Cabral, teriam escondido esses
tesouros.
Em todos os estados da
Europa para onde retornaram, os Templários seguiram as atividades comerciais e
financeiras, com sede no quartel general de Paris e na construção de castelos e
fortificações para os nobres do período feudal edificados para defender a
família e os servos dos ataques dos bárbaros. Como profundos conhecedores do
uso da pedra na arquitetura, especialmente o ângulo de corte da pedra para
sustentação de grandes abóbadas de vão livre, foram contratados pela Igreja
Católica para edificação de igrejas e mosteiros. Como existiam vários mestres
na arte da edificação, se passou a usar o termo Grão ou Venerável para o chefe
das obras.
Em 1.293 a direção da Ordem
passa para o Grão-mestre Jacques de Molay, que fez contato com vários reis e
conseguiu o privilégio de comércio e navegação, para que as exportações de
alimentos feitos pelos Templários ficassem isentos de impostos.
Estando o Felipe, o Belo,
rei da França, bastante endividado e com as finanças reais abaladas em razão de
guerras, resolveu confiscar os bens e tesouros dos Templários e, assim, no dia
13 de outubro de 1.307, uma sexta-feira, ordenou a prisão de todos os Templários
na França, que foram tomados de surpresa diante dos favores que tinham prestado
ao rei. Da mesma forma de traição, o Papa Clemente V, através da Bula de 23 de
novembro de 1.307, ordenou que os Templários fossem presos e suas propriedades
transferidas para a Igreja, não só na França, mas em todos os reinos cristãos,
não sendo, no entanto, obedecido pelos reinos de Portugal e Aragão que muito
deviam de sua soberania à ação decisiva dos Templários. Retribuindo as anteriores e decisivas atuações
e desejoso em mantê-los em seu reino, Portugal conseguiu autorização papal e
transformou a Ordem dos Cavaleiros do
Templo de Salomão na Ordem de Cristo, que vai ter importante papel nas
grandes navegações, inclusive no descobrimento do Brasil, onde Pedro Álvares
Cabral era o comandante militar da esquadra que ostentava a cruz símbolo dos
Templários.
Na França, junto com 138
cavaleiros, foi preso o Grão-mestre Jacques De Molay, que sofreu terríveis
torturas durante 7 anos para confessar pecados de traição a Jesus,
homossexualismo, adoração ao diabo, cuspir na cruz, acusações feitas por
Guilherme de Nogaret para justificar a prisão e o confisco dos bens.
De Molay jamais admitiu
tais acusações e, por isso, no dia 18 de março de 1.314, quando tinha 70 anos,
juntamente com os companheiros Grey D’Auvergnie e Godofredo de Chanay foi
queimado vivo na praça de Paris. Quando ardia em chamas, De Molay gritou,
dizendo que antes do fim do ano, o rei Felipe e o Papa Clemente seriam chamados
à presença de Deus, como de fato aconteceu no prazo de 40 dias.
No dia seguinte ao
aprisionamento dos cavaleiros franceses, toda a esquadra templária zarpou
durante a noite, desaparecendo sem
deixar registros, refugiado-se, possivelmente na Suíça, onde lá implantaram o
admirável sistema bancário. Após a
execução do grão-mestre Jacques De Molay, em 1314, um significativo número de
perseguidos conseguiu, pela segunda vez, embarcar no norte da França em navio
da Ordem com destino a Escócia e ali encontraram refúgio junto à igual
irmandade de construtores, com os quais se fundiram e constituíram o chamado
Rito Escocês antigo e Aceito.
Comentava-se 480 depois,
à época da Revolução Francesa que, quando a cabeça de Luiz XVI caiu na
guilhotina, uma voz do povo gritou: De Molay está vingado.
Hoje De Molay é símbolo
de dignidade de quem prefere a morte a trair os seus ideais e seus
companheiros.